Cadência, Pedivelas e Eficiência Mecânica

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Em 1988, Hull e Gonzáles verificaram que a combinação do tamanho correto de pedivelas com a freqüência de pedaladas do ciclista levam a um bom rendimento mecânico. Foi concluído pelos mesmos que na medida em que aumenta o tamanho das pernas do ciclista, deve-se aumentar o tamanho das pedivelas em conjunto com a adequação da cadência de pedaladas. Eles mostraram que aumentando o tamanho dos músculos (comprimento), aumenta o alcance de trabalho dos mesmos; e aplicando um pouco de Física e Biomecânica viram que aumentando as pedivelas, aumentam os ângulos de trabalho das articulações e assim se aperfeiçoa o trabalho muscular. Burke em 1996 apresentou uma tabela referencial para que sejam calculadas as pedivelas:

.Pedivelas(mm) / Altura(m)
-160.0 / 1.52
-165.0-167.5 / 1.52 – 1.68
-170.0 / 1.68- 1.83
-172.5 / 1.83 – 1.89
-175.0 / 1.89 – 1.95
-180.0-185.0 / 1.95


Ainda em 1988, Hull, Gonzáles e Redfield concluíram algo curioso em outro artigo
publicado que possuía algumas limitações de metodologia: um indivíduo de 177cm de altura submetido a testes com uma pedivela de 145mm, mostrou o que eles chamaram de “ótimo” desempenho ao produzir boa potência de pedaladas a 110rpm. Vejam, que pela tabela apresentada por Burke a pedivela ideal para esse indivíduo seria a de 170mm. Bom, mesmo com limitações o trabalho nos mostra que devemos levar em conta também a característica de pedaladas dos ciclistas para a escolha da pedivela correta, esse ciclista mostrou “ótimo” desempenho com uma alta cadência de pedaladas.
A cadência de pedaladas é outro instrumento de grande valia para os ciclistas, visto que ela pode ser modificada durante a pedalada. Umberger, Gerritsen e Martin em 2005, mostraram que na medida em que a cadência de pedaladas se aproxima de 40rpm existe baixa eficiência mecânica; chegando próximo das 120rpm, a eficiência diminui substancialmente. Foi encontrado um “platô” de eficiência entre 60-100rpm. Marsh e Martin em 1997, testaram corredores, ciclistas e indivíduos menos-treinados com variadas cargas e cadências (50, 65, 80, 95, 110 rpm e cadência preferencial); eles concluíram que independente da situação a que eram submetidos nos testes, os indivíduos com boa aptidão ardiorrespiratória (corredores e ciclistas) preferiam uma cadência entre 90-100rpm. Já os menos-treinados optavam por algo em torno de 65 rpm (menor custo cardiorrespiratório).
Gotshall, Bauer e Fahrner em 1996 submeteram ciclistas a testes com carga constante com o objetivo de avaliar a variação hemodinâmica (fluxo sanguíneo), e viram que na medida em que aumenta a cadência, aumenta o custo cardiorrespiratório e aumentam também o fluxo sanguíneo e retorno venoso (talvez já ajude a explicar a escolha de alguns ciclistas por cadências de pedalada
mais altas).

Patterson e Moreno em 1990 aplicaram testes com cargas variadas e cadência entre 40-120rpm a indivíduos com ciclismo recreacional. Concluíram que pedalar em cadências mais altas implica em um maior consumo de O2, porém reduz as forças periféricas (menor desgaste neuromuscular). Lucia, Hoyos e Chicharro em 2001 analisaram a cadência média de 7 ciclistas profissionais na Volta da França, Volta da Espanha e Giro de Itália (21 dias de análise); conclusão: nas etapas de 50km contra-relógio e nas etapas predominantemente planas com 190km, eles preferiam uma cadência em torno de 90rpm. E nas altas montanhas com 15km, eles preferiam a cadência de 70rpm, para diminuir o custo cardiorrespiratório.
Denadai, Ruas e Figueira em 2005, mostraram que a cadência preferencial dos ciclistas profissionais, gira em torno de 80-100rpm. Apesar de ser não a melhor faixa de eficiência bruta (menor gasto energético relativo à potência aplicada), essa faixa é a que apresenta maior eficiência neuromuscular (com menor aplicação de força no pedal e menor propensão à fadiga periférica).
Conclusão: Muitas variáveis devem ser observadas na busca de uma pedalada eficiente. Os poucos trabalhos acima, nos mostram que a ciência é uma grande aliada, e deve ser vista como tal. O ciclismo ainda vive “embasado” por muito empirismo. Não existe motivo para tal, já que a ciência nos fornece dados de grande valia e fidedignidade.

Referências bibliográficas

1. Hull ML, Gonzales HK (1988): Bivariate optimization of pedalling
rate and crank arm length in cycling. Journal of Biomechanics. 21 (10),
839-849.
2. Hull ML, Gonzales HK, Redfield R (1988): Optimization of pedalling
rate in cycling using a muscle stress-based objective function.
International Journal of Sport Biomechanics. 4, 001-020.
3. Patterson RP, Moreno MI (1990): Bicycle pedaling forces as a
function of pedaling rate and power output. Medicine Science of Sports and
Exercise. Aug;22(4):512-6.
4. Burke ER (1996): High-Tech Cycling. Champaign: Human Kinetics.
5. Gotshall RW, Bauer TA, Fahrner SL (1996): Cycling cadence alters
exercise hemodynamics. International Journal of Sports and Medicine.
Jan; 17(1):17-21
6. Marsh AP, Martin PE (1997): Effect of cycling experience, aerobic
power, and power output on preferred and most economical cycling cadences.
Medicine Science of Sports and Exercise. Sep;29(9):1225-32
7. Lucia A, Hoyos J, Chicharro JL (2001): Preferred pedaling cadence in
Professional cycling. Medicine Science of Sports and Exercise.
Aug;33(8):1361-6
8. Umberger BR, Gerritsen KG, Martin PE (2005): Muscle fiber type
effects on energetically optimal cadences in cycling. Journal of
Biomechanics. May 26.
9. Denadai BS, Ruas VDA, Figueira TR (2005): Efeito da cadência de
pedalada sobre as respostas metabólica e cardiovascular durante o exercício
incremental e de carga constante em indivíduos ativos. Rev Bras Med Esporte
– Vol. 11, Nº 5 – Set/Out, 2005